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Negócios firmados entre empresários confirmam o sucesso do Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, afirma Jorge Viana da ApexBrasil

Negócios firmados entre empresários bolivianos e brasileiros confirmam o sucesso do Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, afirma Jorge Viana

Evento reuniu mais de 350 empresários e autoridades de ambos os países em Santa Cruz de la Sierra, no marco da visita do presidente Lula à Bolívia. Temas caros ao comércio bilateral foram debatidos em painéis temáticos, como segurança e transição energéticas, transporte e sustentabilidade na agricultura e na pecuária

“Nos mais de 10 encontros empresariais que já fizemos desde o ano passado, talvez as mais concretas e objetivas discussões tenham sido aqui na Bolívia”. Foi em tom de otimismo que o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, se dirigiu aos mais de 350 empresários e representantes de instituições públicas presentes no Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, realizado na última terça-feira (9) em Santa Cruz de la Sierra com a parceria do Ministério das Relações Exteriores (MRE). O evento, que integrou a agenda de atividades do presidente Lula no país vizinho, se soma a uma série de outros fóruns organizados pela Agência no marco de missões presidenciais, em países como Argentina, Colômbia, Angola e Arábia Saudita.

Citando o exemplo da compra direta de gás boliviano por parte da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), firmada no Fórum, Viana ressaltou que as conexões entre produtores bolivianos e brasileiros deverão trazer resultados imediatos. “O trabalho que o senhor está fazendo facilita muito a vida dos empresários, inclusive com a volta da diplomacia presidencial. Vamos seguir com essa política que o senhor orienta de recuperar o fluxo de comercio com a Bolívia”, acrescentou o presidente da ApexBrasil, dirigindo-se a Lula, que estava ao seu lado no palco. “Em 2003, o comércio bilateral com a Bolívia era US$ 700 milhões; quando o senhor saiu [em 2010], já estava em US$ 5 bilhões”, disse Jorge Viana, destacando a necessidade de reforçar as relações bilaterais. Hoje, a corrente de comércio entre os dois países está na casa dos US$ 3,3 bilhões.

O presidente da ApexBrasil também agradeceu aos segmentos produtivos representados no evento, a exemplo de óleo e gás, energia elétrica, biocombustíveis, mineração, calçados, moda, fármacos e químicos. “Aqui estão representados setores da economia muito fortes, vários deles ligados aos desafios da transição energética”, pontuou. Falando na sequência, Lula destacou: “Eu pedi ao companheiro Jorge Viana que convidasse o máximo possível de empresários, e fiz questão de trazer a presidente da Petrobras, porque sei da importância que a Petrobras já teve na Bolívia e que ainda pode ter”. Leia mais sobre a participação de Lula no Fórum aqui.

Segurança energética

Temas caros ao comércio bilateral foram discutidos ao longo do evento em painéis temáticos, com a participação de empresários e autoridades de ambos os países. O primeiro, “Parceria estratégica para a segurança energética”, debateu a cooperação entre Brasil e Bolívia para a diversificação e complementaridade de suas matrizes, de modo a servir aos mais variados setores produtivos. O presidente da Empresa Nacional de Eletricidade da Bolívia (ENDE), Manuel Valle, disse que embora o comércio de hidrocarbonetos como gás natural se mantenha relevante, “estamos muito convencidos de que temos que avançar com uma tarefa importante, que é a integração eletroenergética de nossos países”. Valle enfatizou a crescente demanda do Brasil por energia elétrica e mencionou o “projeto ambicioso” de incrementar a produção da usina de Jirau, no Rio Madeira, com benefícios para ambos os países.

Também falando sobre o tema, o presidente da Jirau Energia, Edson Silva, explicou que a hidrelétrica pode operar em cotas que variam entre 82,5 e 90 metros. A proposta, agora, é que Jirau opere a maior parte do tempo mais próxima dos 90, garantindo um incremento da produção anual e o consequente barateamento dos custos. Esse excedente seria dividido entre Brasil e Bolívia, continuou ele, contribuindo para a segurança energética dos dois países. “É um exemplo de que a integração eletroenergética é possível e que todos ganham”, pontuou. Em sua visão, isso contribuiria com o protagonismo da América Latina na transição energética, acompanhado por justiça e inclusão social. Silva ponderou, no entanto, que explorar todo esse potencial requer segurança jurídica e harmonização regulatória.

Já o CEO da Fluxus, braço de óleo e gás do grupo J&F na América Latina – holding que controla também a gigante de alimentos JBS – anunciou o investimento de US$ 100 milhões para ampliar a produção de gás natural em três campos recém-adquiridos na Bolívia – Tacobo, Tajibo e Yacuiba, da bacia Tarija-Chaca. A ideia é ampliar a produção dos 100 mil metros cúbicos/dia para 1,1 milhão/dia, de forma a atender a demanda por gás na região, inclusive dos outros negócios do grupo J&F. Reforçando que a visão da empresa é investir, Savini destacou: “esse é um desafio que temos na Fluxus. De uma forma integrada, produzir gás natural no Brasil; na Argentina, onde já somos produtores de gás natural; e também aqui na Bolívia, para abastecer o mercado brasileiro”.

Transição energética e integração de cadeias produtivas

Na sequência, foi realizado o painel “Vetores de transição energética e integração de cadeias produtivas”, para o compartilhamento de lições entre os países. A gerente de Relações Institucionais da Embraer, Verônica Prates, destacou a possibilidade de uso do SAF (sigla em inglês para Combustível Sustentável de Aviação) para diminuir ou mesmo zerar as emissões de gás carbônico até 2040. Embora o uso do combustível já aconteça, compondo 50% da mistura, o desafio agora é utilizá-lo em aeronaves maiores, para aviação regional e internacional. “A cadeia precisa trabalhar de forma conjunta com os governos para regulações que promovam tanto o consumo quanto a produção”, acrescentou a gerente. Segundo ela, a Embraer deseja certificar aeronaves 100% movidas a SAF até 2030.

O diretor executivo do Arranjo Produtivo Local do Álcool (Apla), Flavio Castellari, ressaltou que “a aviação vai demandar cada vez mais combustíveis limpos, de baixo carbono, e os biocombustíveis são parte da solução”. Segundo ele, as rotas mais avançadas para o SAF são as do biodiesel e as do etanol, o que confere enormes oportunidades ao setor de cana-de-açúcar em ambos os países. Castellari falou também sobre as vantagens de harmonizar o percentual permitido para a mistura de etanol na gasolina em países do Mercosul – que é hoje, por exemplo, de 27% no Brasil, de 25% no Paraguai e de 12% na Bolívia, que busca aumentar para esse valor para ¼. “Isso poderá aumentar a demanda por etanol e, no futuro, o excedente poderá ir para o SAF”, apontou o diretor da Apla.

O painel também recebeu a presidente da Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB), Karla Calderón, para falar sobre as oportunidades associadas à extração do mineral. A Bolívia detém as maiores reservas mundiais de lítio, apontado como estratégico à transição energética devido às versáteis baterias de íons de lítio, utilizadas em sistemas de energia solar e carros elétricos, por exemplo. Segundo a CEO, a estatal tem buscado cooperar com diferentes países para a seleção das melhores tecnologias, e existe o desejo de consolidar ferramentas de intercâmbio também entre a Bolívia e o Brasil, segundo ela um dos principais mercados para o mineral. “Ambos têm experiência na parte da pesquisa, da exploração e da otimização de processos”, enfatizou. Outro ponto em comum entre os países, continuou Calderón, é o passado colonial de ambos, marcado pela formação de uma economia extrativista. Por isso, o cuidado com a sustentabilidade precisa ser uma prioridade em todos os projetos de mineração.

Sustentabilidade e inovação no agro

O último painel do dia foi dedicado à discussão sobre “Inovação e sustentabilidade na agricultura e pecuária”. Representando o Fórum Bilateral da Castanha, o gerente comercial da Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), Kássio Almada, chamou a atenção para a importância da iniciativa, realizada pela ApexBrasil no dia anterior para reunir produtores de Bolívia e Brasil. “O Fórum Bilateral da Castanha-do-Brasil é uma iniciativa inédita e com isso ambos os países reafirmam o compromisso com o bem-estar das nossas comunidades”, frisou. Para o gerente, a castanha é sinônimo de floresta em pé, de boa nutrição e do próprio comércio bilateral, visto que ambos os países atuam significativamente com essa cadeia produtiva. Em 2023, o Brasil foi o 4° principal exportador do produto, com cerca de US$ 18 milhões exportados, ficando atrás da própria Bolívia, principal fornecedor mundial, com quase US$ 114 milhões exportados.

A diretora-executiva de Negócios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ana Euler, fez um panorama sobre as contribuições da empresa para a agricultura brasileira ao longo de suas cinco décadas, “mostrando que é possível fazer um agro de base sustentável, tendo a ciência como base”. Euler pontuou que a Embrapa mantém negócios com empresas bolivianas que trabalham com culturas como sorgo e soja, porém ainda restritos à base genética. A empresa, no entanto, tem avançado na oferta de outras tecnologias para a integração lavoura-pecuária e para o cuidado com a floresta, “promovendo maior eficiência no uso da terra”, segundo ela. Exemplos disso são a fixação biológica de nitrogênio, amplamente utilizada na cultura da soja, e os bioinsumos para controle de pragas e indução do crescimento vegetal.

O gerente-geral da Empresa de Apoio à Produção de Alimentos (EMAPA) da Bolívia, Franklin Flores, elogiou a atuação da Embrapa e compartilhou alguns dos esforços da equivalente boliviana para o aprimoramento da agropecuária em seu país. Segundo ele, é parte da missão da empresa transformar o valor agregado dos produtos. “A Bolívia tem um compromisso sério com todos os produtores e destinos. Somente nessas últimas plantas, investimos 2,8 milhões de [pesos] bolivianos. Isso beneficia também os pequenos produtores”, exemplificou.

A disposição em cooperar com produtores bolivianos foi reforçada pelo presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. “O Brasil é um grande produtor e temos uma mensagem clara de complementaridade”, frisou ele, acrescentando que isso permite ao Brasil produzir a baixo custo. Em sua visão, o país pode contribuir para a indústria de processamento boliviana, com o fornecimento de matérias-primas. “Somos irmãos latino-americanos e queremos ajudar o mundo na segurança alimentar”, complementou.

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