Adquirido pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) no final do ano passado, com um investimento de R$ 1,8 milhão, o analisador de gases do efeito estufa pode transformar a maneira como se mede a sustentabilidade da produção agropecuária no Rio Grande do Sul. Exposto no estande da Seapi na Expointer, o equipamento calcula, a cada 20 segundos, com precisão científica, os volumes de gás carbônico, metano, óxido nitroso e amônia presentes no solo em diferentes tipos de manejo, que variam conforme as fórmulas de adubo utilizadas no cultivo.
Com o uso da ferramenta, os pesquisadores da Seapi pretendem fornecer índices de sustentabilidade de produção cientificamente embasados e adaptados à realidade local — algo que ainda não é oferecido por entidades como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidos (ONU). Na prática, os dados agregarão valor aos produtos agrícolas e poderão servir como certificação no mercado internacional, o que tende a aumentar o volume de exportações e expandir o mercado do agronegócio gaúcho.
“Somos o único Estado que possui esse equipamento, que servirá como um instrumento de qualificação do modo de produção sustentável no Estado. Com os resultados obtidos, poderemos ampliar a competitividade dos produtos agrícolas e torná-los referência na redução da emissão de gases poluentes”, destaca Caio Efrom, diretor do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), criado em 2017.
A primeira coleta de dados do equipamento começou em janeiro, na região de Ilópolis, com o objetivo de analisar a sustentabilidade na produção de erva-mate. A cada 20 dias, a equipe de pesquisadores da Seapi se desloca até o local, um dos maiores polos de produção da folha, para medir os gases de efeito estufa no solo. A análise se dedica aos manejos de pleno sol e sombreamento, os métodos de plantio mais comuns no Estado.
Para garantir um diagnóstico preciso, o trabalho continuará até o fim deste ano, de modo a coletar informações ao longo das quatro estações, uma vez que fatores naturais – como umidade, vento e radiação solar – influenciam diretamente as análises.
Segundo o coordenador do Plano ABC+ RS, Jackson Brilhante, os primeiros resultados da pesquisa devem ser divulgados no início de 2025. Com os dados em mãos, a intenção é formular índices confiáveis de emissão, que fortaleçam o cultivo sustentável de erva-mate e agreguem valor ao produto.
Os avanços podem ampliar o mercado consumidor, especialmente na Europa, que exige cada vez mais métodos sustentáveis na produção para a entrada de produtos no continente. Os índices ainda podem aumentar a geração de renda no campo ao oferecer mais oportunidades de emprego e melhoria na qualidade de vida nas áreas rurais.
“A ideia é fornecer um índice cientificamente embasado, que possa ser comparado aos níveis estipulados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, os quais nem sempre refletem a realidade local”, avalia Brilhante.
Segundo uma pesquisa realizada pela Seapi em 2023, o preço da erva-mate é a segunda maior dificuldade enfrentada pelos produtores. A preocupação com a volatilidade do mercado é 600% superior à média das demais atividades rurais no RS.
O levantamento, coordenado pelo pesquisador Bruno Lisboa, também revelou que 84% do solo utilizado na produção é adubado, sendo 76% com adubo mineral e cerca de 11% com adubo orgânico. À medida que os estudos da pesquisa avançam, a participação do adubo natural ganhará ainda mais espaço.
Texto: Rodrigo Azevedo/Ascom Expointer
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