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EXPOINTER: Entrevista com Renato Borghetti, atração da mostra cultural na 47ª feira

EXPOINTER: Entrevista com Renato Borghetti, atração da mostra cultural na 47ª feira

Com mais de 45 anos de carreira, o músico e gaiteiro Renato Borghetti , 61, já lançou 29 trabalhos em vinil, fita cassete, CD e DVD. Borghetti participou da programação da 2ª Mostra da Cultura Gaúcha do Parque Assis Brasil (veja programação completa no final da entrevista), na 47ª Expointer, ao lado violonista Neuro Júnior e do percussionista Pedro Borghetti.

O gaiteiro concedeu entrevista, ao lado da filha, a coreógrafa e dançarina Emily Borghetti, para o repórter Rodrigo Martins.

Pergunta: Borghetti, creio que há dois marcos iniciais na sua carreira. Em 1983, a participação no festival na 13ª Califórnia da Canção Nativa, em Uruguaiana, com a canção “Guri”, ao lado do cantor César Passarinho; e, em 1984, o lançamento do álbum “Gaita Ponto”, que completa 40 anos, em 2024, justamente no final de agosto, pela gravadora Som Livre, através do produtor fonográfico Ayrton “Patinete” dos Anjos (falecido em junho deste ano). O LP ultrapassou 100 mil de vendagem (hoje, se estima em torno de 250 mil cópias vendidas). Foi o primeiro Disco de Ouro da história da música instrumental no Brasil.

A que você deve esse fenômeno? Poderia comentar este começo de sua trajetória profissional?

Borghetti: Primeiro é um prazer estar falando. Para a gente falar as datas, dar a cronologia, em 84, eu gravei, e na Califórnia, eu fiz em 83, quando ganhamos com o Guri. Mas eu já toquei na Califórnia em 79. Com Juarez Bittencourt, o “Tchutchu”, a banda era o Elton Saldanha, o João Almeida, o Max, o Eracir (Rocha) e eu, acompanhando o Juarez Bittencourt, também já falecido.

Quando eu gravei esse disco, quis fazer independente. As mil cópias era o que eu queria, era a minha projeção. Fazer independente não era muito comum na época. Eu me lembro de ter um grupo mineiro que fez independente, que era o Boca Livre. E se eles fizeram, era possível.

Naquela época, os estúdios eram muito complicados, horários… E eu gravei todo o disco independente, desde a gravação, mixagem, a capa, tudo, eu fiz o disco pronto para ser lançado independente. Foi aí que entrou o Patinete, que fez essa proposta de fazer o lançamento e a distribuição pelo selo Som Livre, da RBS Discos, que estava sendo iniciada. E aí sim, ele peitou, porque o pessoal, no primeiro momento, não queria fazer. Eu era muito desconhecido, mas, aí sim, os números foram falando por si.

E o que eu acho que é o mais legal de tudo, é exatamente, que não tem explicação. A gente não preparou nada. Todo mundo disse que a capa foi uma baita jogada de marketing: aquela ideia de ficar indo, caminhando, depois de costas, que ficou a imagem mais famosa do disco… Nada! Foi um monte de foto lá fora, com o Pedro Nunes, e a gente escolheu as fotos. Então, eu acho que é exatamente a coisa feita, claro, com muita verdade, mas sem programações, as coisas foram acontecendo. E é o que acontece ainda hoje.

Pergunta: Como está o cenário da gaita de botão, da gaita ponto, hoje, em relação à época que você começou?

Borghetti: Eu lembro que eu acordava cedo para escutar rádio, para escutar música gaúcha. Era primeiro, era o período que podia ter acesso. Então, eu acordava 4h30 da manhã, 5h da manhã, fazia o mate e ia escutar música gaúcha. Esse era o meu programa.

E hoje facilita, né? Hoje tu tens acesso a outros horários, tem acesso a mais informações. Então eu acho que isso facilitou muito. E a gaita ponto, as referências eram poucas, mas também porque chegavam poucas informações. Então, a informação chega, né? De gaiteiros não só daqui, mas gaiteiros de fora…

Pergunta: Bom, mas de certa forma, também você impulsionou toda uma geração de gaiteiros, não é?

Borghetti: Eu quero acreditar! (ri o músico).

Pergunta: Você foi estudante de medicina veterinária, antes de seguir na carreira da música, né? Como é que você percebe as conexões entre cultura, agricultura, pecuária, arte, campo, indústria cultural e agronegócio?

Borghetti: Acho que tem muito a ver com o tipo de música que eu faço. É uma música regional. A cultura gaúcha tem muito dessa ligação com o campo, né? Sempre, em que pese eu ter nascido em Porto Alegre, sempre convivi com o campo, com meu pai e a minha mãe, com propriedades rurais. Eu sempre gostei dessa relação, principalmente, com os grandes animais que a gente chama cavalo, gado, ok? E é por isso que eu vim fazer veterinária, na época.

Pergunta: Mas não concluiu?

Borghetti: Não, porque o sonho do pai e da mãe era que eu entrasse na UFRGS. Eles nunca falaram que eu tinha que sair. Então eu dei essa alegria para eles. (RISOS). E depois a música, é claro, atrapalhou. Ele tendo seguido a carreira musical, não deu para continuar.

Pergunta: No DVD “Fandango” (2008), você faz uma homenagem aos CTGs, os Centros de Tradições Gaúchas, em um comentário audiovisual sobre a tradição e a importância disso na sua formação. Seu trabalho parte daí, mas reinventa isso, de certa forma. Quais são as fontes da sua inspiração?

Borghetti: No Fandango, talvez ali, fiquem mais claras algumas coisas. Fiz o primeiro disco, claro, ainda muito inexperiente, uma formação bastante simples musical, inclusive, mas que eu ainda devo muito a esse meu primeiro disco, mas a partir do segundo, eu acho que eu já comecei a buscar essa forma que eu vejo o regionalismo do Rio Grande do Sul.

No meu segundo disco, já o Sivuca participou. Então, em seguidinha, eu recebi o convite do Luiz Gonzaga. Eu acho que isso aí tudo vai interferindo na tua música, todas as tuas interações com o nordestino vão te modificando. Mas a única coisa que eu sempre procurei é não deixar de ter algumas coisas que eu penso que são essenciais para identificar a minha música: que são, por exemplo, os ritmos, são os ritmos que são ou do Rio Grande do Sul, ou esses aculturados de influência da Argentina, do Uruguai, como o chamamé, uma música quase tão gaúcha quanto qualquer outro ritmo.

Pergunta: Como se deu a exportação do seu trabalho? Por exemplo, a participação, cada vez mais frequente, em festivais de música no exterior, em países como Portugal, Croácia, França, República Tcheca, Áustria e Alemanha. O que geram estas experiências? Quais intercâmbios possíveis?

Borghetti: Bom, a primeira coisa: a gaita veio de lá. A gaita veio da Europa. Então, não estou fazendo nada de mais do que voltar com a gaita para o lugar da origem dela. Claro que com todos esses cento e poucos anos de cultura, de aculturação aqui no Brasil, não só no Rio Grande do Sul, tem a gaita do Nordeste, a gaita do Centro Oeste. Então, o fato também de eu fazer música instrumental acho que me facilita, porque eu não me esbarro no idioma.

Eu toquei antes na Europa e nos Estados Unidos, mas eu comecei realmente a ter uma atividade mais sólida, principalmente na Europa, a partir de 2000. Em 2000, a gente começou a tocar todo ano sempre, pelo menos uma ou duas turnês. A gente chegou a fazer cinco turnês em um ano. Hoje, o trabalho na Europa é consolidado.

Pergunta: Mulheres artistas gaúchas têm contribuído com olhares renovados sobre a cultura gaúcha, questionando e dando novos significados, transgredindo e transformando o folclore, a arte e a sociedade. Por exemplo, os trabalhos da violonista e pesquisadora Clarissa Ferreira, com o Gauchismo Líquido, e a reinterpretação da chula e da dança gaúcha, de sua filha, a dançarina e coreógrafa Emily Borghetti. Qual é sua opinião sobre estas propostas?

Borghetti: Primeiro, eu parto do princípio que eu não estaria falando aqui sobre a arte, sobre o trabalho dela, sobre o trabalho delas, se não tivesse, primeira coisa, qualidade. E a segunda coisa, eu insisto nisso, uma fala do Paixão Cortes. Ele sempre dizia que o folclore não é estático… O folclore é dinâmico, as informações chegam, vão se aculturando e eu acho que isso é importantíssimo.

Eu acho que a mulher hoje, num papel global, está com um protagonismo bárbaro. Que bom! E não poderia ser diferente num movimento tradicionalista, né? Então eu acho que essas barreiras que vão se quebrando, com muito respeito, eu acho que isso que é importante, com muito conteúdo.

Emily: Bueno. Minha mãe é bailarina (Cadica Borghetti). E ela sapateia e dança. Sempre eu aprendi com ela, né? Então, para mim, sapatear e dançar dessa forma não é uma coisa que começou agora, né? Claro que eu sempre ouvi as músicas do meu pai, eu sempre ouvi música gaúcha desde pequena. Então, essas músicas sempre me emocionaram. Quando adulta, comecei a trabalhar com o centro das tradições gaúchas. E aí, me deparei com essa barreira de que talvez essa forma de dançar não fosse a forma certa.

Mas, ao mesmo tempo, havia a vontade que os grupos tinham de, principalmente das prendas, de dançarem mais. Então, essa demanda existe. Isso mostra também como é importante falar sobre esses assuntos, algo que as mulheres querem falar.

Pois, é um movimento muito contado pelos homens. Eles que fazem as músicas que falam sobre as mulheres, e não as mulheres que fazem as suas próprias músicas falando sobre si, as suas próprias danças e como se sentem. Também tirar esse lugar da mulher que é o troféu da chula. É o duelo da chula para que a mulher seja a recompensa. Isso não faz mais sentido.

Então, a gente tem que trazer uma narrativa diferente, acompanhar as coisas que estão acontecendo, discutir, ter espaço para conversa e pra troca. Isso é um reflexo de tantas coisas que a gente vive na nossa sociedade que a gente precisa conversar mais. Para que a gente tenha mais narrativas. Quando a gente tem uma forma só de contar as coisas, a gente perde de ter muitas narrativas.

Pergunta: Estamos vivendo a Expointer da superação, depois da pandemia do Covid, e agora, que o Rio Grande do Sul foi assolado pelas enchentes de maio. Como a Fábrica de Gaiteiros enfrentou e foi afetada por este desastre natural? E como você percebe os caminhos para a retomada do Estado?

Borghetti: A cultura e a arte são fortes, mas ao mesmo tempo como são frágeis. Acho que todo mundo já escutou isso. Foi o primeiro setor a parar e o último a recomeçar. Então, como ela é frágil para qualquer intercorrência que aconteça – coisas climáticas ou coisas pandêmicas – por isso, tem que ter um olhar muito cuidadoso, muito especial, para a cultura em geral e para a cultura de um país.

A Fábrica de Gaiteiros foi bastante atingida porque o município de Barra do Ribeiro foi atingido. Toda a região que é ribeirinha sofreu muito. Lá, entrou água mais um metro e meio dentro da fábrica. Mas a gente está agora já com a fábrica funcionando a pleno, a única atividade que não está funcionando é a visitação, porque ela ainda está em obras e visitar uma obra não é uma coisa bonita.

Nossa arquiteta aqui, a Emily, que idealizou e fez todo o projeto da Fábrica de Gaiteiros. Acredito que mais uns 10 dias a fabricação e as aulas estarão a pleno. Hoje nós temos em aula 680 crianças nas 25 unidades, em 24 cidades.

Emily: O projeto da Fábrica de Gaiteiros é um projeto que faz ter um gaiteiro em casa. É uma alegria, imagina! São 680 crianças, nesse momento, aprendendo esse instrumento, e quantas crianças já passaram pelo projeto? Então, também é uma forma de passar a cultura adiante, de fazer com que esse instrumento também seja um instrumento de reconstrução. Também faz com que a gente se entenda nesse lugar que a gente vive.

Pergunta: Vamos imaginar uma viagem no tempo. O que o Borghetinho dos anos 1980 diria para o Borghetti de hoje? E vice-versa: o que o Borghetti de hoje diria para o jovem Borghetti, se fosse possível?

Borghetti: O que o Borguetinho jovem diria para o Borguetinho de agora? Mas homem, por que você não acabou a medicina veterinária? (RISOS)

E o que eu diria para o jovem Borghetti? Alguma coisa que, agora, eu faço na fábrica de gaiteiros para as crianças, que eu não fiz no início, aprender teoria musical. Eu, por exemplo, sou um autodidata. Como é que é mesmo? “Falaram que eu sou ignorante por conta própria”. (RISOS) Quem é que falou isso?

Eu participei de um estudo na Europa dos países que tocam o acordeon diatônico (a gaita ponto). Diferente do acordeon pianado, diferente do acordeon cromático, o acordeon diatônico, a gaita ponto, não tem método de ensino no mundo. Existem algumas coisas na Colômbia. Tem alguma coisa na França, mas não chega a ser um método. E a gente, na Fábrica de Gaiteiros, desenvolveu um método para os iniciantes. A gente inventou alguma coisinha para poder fazer com que o aluno lá de Dom Pedrito toque junto com o aluno de Guaíba e que toque com o de Lagoa Vermelha, sem nunca terem se visto. Então, é a base de tablaturas (uma simplificação) e, em cima, a gente coloca a partitura.

Pergunta: Num mundo no qual inteligência artificial é utilizada para criar e produzir arte e música, uma era digital no qual há a proliferação de tecnologias e redes, qual o futuro da arte, em especial, da arte de Renato Borghetti?

Borghetti: Bom, eu sou analógico total! (RISOS). Nem precisa ir no extremo: que a inteligência artificial para mim é inalcançável. Eu vou no básico: botar alguma coisa em rede social eu não sei fazer. A pau e corda, eu consegui domar um pouquinho o Whatsapp para me comunicar. Então, eu acho que nada vai substituir realmente a coisa física. Eu acho que ter a tecnologia é importante, mas tu não podes depender dela. Eu não gosto de depender de muita coisa, ainda mais depender de uma tecnologia, de uma coisa tão fria. Eu não gosto muito da ideia.

Emily: Acho que nada vai substituir a gente se emocionar. Então, acho que o trabalho do pai, embora analógico, é um trabalho que emociona e tem muita verdade. Isso a tecnologia não vai conseguir fazer.

Borghetti: O Dominguinhos dizia que com a idade tu vai descobrir que uma nota bem colocada vale umas 10, 20! (RISOS). Isso tem que valer alguma coisa, quando o cara está ficando um pouquinho mais velho.

Confira as atrações culturais que prosseguem até o próximo domingo (01/09).

30/08- Sexta-Feira

  • 2ª MOSTRA DA CULTURA GAÚCHA DO PARQUE ASSIS BRASIL
    14:00- Agrupamento Biriva Tranca-Fio
    14:30- Mostra Fotográfica Fernando Dias
    14:45- Marcello Caminha
  • PROJETO ESTRADA CULTURAL
    15:30- Juliana Spanevello
    16:30- Joca Martins
    17:30- Wilson Paim
    18:30- Shana Muller

31/08-Sábado

  • 2ª MOSTRA DA CULTURA GAÚCHA DO PARQUE ASSIS BRASIL
    14:00- Grupo de Danças do CTG Brazão do Rio Grande
    14:30- Fabiano Harden
    15:00- Fofa Nobre
  • PROJETO ESTRADA CULTURAL
    15:30- Nycolas Pereira
    16:30- Angelo Franco
    17:30- Elton Saldanha
    18:30- Luiza Barbosa

01/09-Domingo

  • 2ª MOSTRA DA CULTURA GAÚCHA DO PARQUE ASSIS BRASIL
    14:00- Grupo de Danças Folk de Espora
    14:30- Jean Carlos Godoy e Leandro Rodrigues
  • PROJETO ESTRADA CULTURAL
    15:00- Stephanie Kauana
    16:00- Capitão Faustino
    17:00- Marcelo Cachoeira
    18:00- César Oliveira e Rogério Melo