Em março do ano passado, a professora Simone Castelan lançou um desafio aos alunos do Colégio Agrícola Estadual Ângelo Emílio Grando, em Erechim. Como parte da disciplina de Seminário Integrativo, eles foram incentivados a criar uma ferramenta inovadora, baseada em fundamentos científicos, que tivesse aplicação prática no cotidiano da produção agrícola. Nas palavras dela, algo que fizesse a diferença para “quem pega na lida”. Para surpresa de muitos, exceto para Simone, pouco mais de um ano depois, um dos projetos da turma do 2º ano do Ensino Médio, liderado pela estudante Isadora Taufer, destacou-se em uma das maiores feiras científicas do Brasil e aparece como uma das atrações da exposição de alunos da rede estadual na Expointer.
“Como sempre, focamos muito na pesquisa científica e na inovação dentro da sala de aula, todo ano os alunos criam algo diferente, mas este projeto se destacou pela originalidade e pela capacidade de se tornar um instrumento de uso prático para pessoas do campo e de centros urbanos”, conta Simone.
Batizado de Casa Vegetativa, o protótipo desenvolvido pelos alunos funciona como uma estufa inteligente, que pode abrigar temperos e hortaliças em um ambiente totalmente controlado, com cultivo 100% orgânico. Dentro de uma estrutura de madeira vedada e esteticamente trabalhada, o espaço automatiza o controle do solo sobre diversos fatores naturais, como o nível de gás carbônico, umidade e calor, e garante que as plantas não sejam afetadas por esses elementos. A finalidade é proteger as plantas de intempéries naturais e ações humanas.
Se a temperatura do espaço ultrapassa os 23ºC, no caso do plantio de salsa, hortaliça em teste pelos alunos, o sistema aciona automaticamente um regador acoplado à estufa, que irriga o ambiente até que a temperatura retorne ao nível ideal para o desenvolvimento pleno da planta. Por outro lado, se o ambiente perde temperatura e fica mais úmido do que o recomendado, a Casa Vegetativa aciona as luzes de full-spectrum, que restauram a temperatura ideal e auxiliam na fotossíntese, processo fundamental para o crescimento da planta. A programação do sistema pode ser adaptada a qualquer tipo de hortaliça.
“No início, a ideia era que a invenção servisse para o plantio de espécies exóticas em centros urbanos, como a Sequoia, uma planta nativa dos Estados Unidos. Mas percebemos que a tecnologia também poderia proporcionar melhorias no campo, como o isolamento de alimentos do contato com herbicidas e eventos climáticos, como geada e chuvas fortes”, explica Isadora, que vai expor o protótipo até quinta-feira (29), no espaço da Secretaria da Educação (Seduc), que fica na Casa da Embrapa. Desde o ano passado, ela tornou-se bolsista remunerada pelo CNPq, do Ministério da Ciência e Tecnologia, e vem desenvolvendo pesquisas ligadas ao tema do plantio em ambientes controlados.
Estufa pode ajudar no plantio e reduzir o uso de herbicidas no cultivo – Foto: Jürgen Mayrhofer / Secom Além de viabilizar economicamente a produção de hortaliças mesmo em condições climáticas adversas, a invenção pode ajudar produtores a aumentar a capacidade de produção de alimentos orgânicos, itens cada vez mais procurados pelos brasileiros. Atualmente, de acordo com a Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM), a produção brasileira de horticultura gira em torno de 20 milhões de toneladas por ano. Estima-se que quase 2,5 milhões de pessoas trabalhem no setor, que movimenta cerca de R$ 100 bilhões anuais.
Selecionados para a última edição da Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), um dos maiores encontros científicos do mundo, realizada em Novo Hamburgo, os estudantes vislumbraram na feira a possibilidade de expandir as fronteiras do projeto. Entusiasmados com a invenção, oficiais da Marinha indicaram a estrutura para investidores, que viram no projeto um potencial de aplicação comercial com ganho de escala — ou seja, de se tornar um produto comercializável e rentável.
Segundo Vinícius Colombili, aluno que se juntou à equipe do projeto neste ano, a ideia não está descartada. “Não descartamos a possibilidade de investir na invenção como um negócio, mas antes precisamos concluir os estudos na escola para podermos dedicar mais tempo e esforço ao projeto. Mas é muito bom saber que inventamos uma ferramenta que pode fazer a diferença na vida das pessoas”, comemora.
Em setembro, o projeto cruzará pela primeira a divisa do Estado, sendo uma das atrações da Feira Brasileira de Iniciação Científica (Febic), na cidade de Pomerode, em Santa Catarina.
Trabalhos de inovação e sustentabilidade rural
A Casa Vegetativa é um dos trabalhos expostos no espaço da Secretaria da Educação (Seduc), localizado próximo à pista central do parque. O local reúne projetos de 26 instituições de ensino da Rede Estadual, entre escolas técnicas agrícolas e escolas do campo, que estão expondo trabalhos que refletem dinâmicas de inovação e sustentabilidade no meio rural.
Os projetos pedagógicos foram organizados em três grupos, que se revezarão ao longo da semana. Cada grupo permanecerá três dias na Expointer. Ao todo, 50 estudantes e 26 professores, além de assessores das Coordenadorias Regionais de Educação (CRE), participam da exposição na Casa da Embrapa.
Veja a programação completa da exposição.
Texto: Rodrigo Azevedo / Ascom Sedec
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